Recentemente, tive a oportunidade de ocupar o Conselho de uma empresa atuante no comércio varejista e vi, de perto, a importância de um Conselho ativo, estratégico e conectado com os desafios do setor. O varejo é um ambiente altamente dinâmico, onde as decisões precisam acompanhar o comportamento do consumidor final, os avanços tecnológicos, as pressões por sustentabilidade, economia circular e, ao mesmo tempo, manter o olhar atento à margem, à operação e à reputação da marca. Nesse cenário desafiador, a atuação do Conselho se torna não apenas relevante, mas essencial.
Ao contrário da visão tradicional de que o Conselho existe apenas para aprovar resultados e acompanhar conformidade, no varejo ele é chamado a ir além: provocar a liderança a pensar o futuro, antecipar movimentos de mercado, garantir integridade e preservar o propósito da empresa. Vi, em reuniões estratégicas e em conversas com executivos, como uma governança bem estruturada pode ser o ponto de virada para a sustentabilidade de um negócio que lida diariamente com variáveis voláteis, como fluxo de clientes, rupturas na cadeia de suprimentos ou transformações digitais repentinas.
A transformação digital, por exemplo, não pode ser tratada como um projeto isolado ou uma resposta a modismos. É uma reconfiguração profunda do modelo de negócio. O consumidor exige uma jornada fluida, conectada, e cada ponto de contato entre ele e a marca precisa ser coerente, responsivo e estratégico. O Conselho deve compreender essa lógica, estimular a empresa a investir com intencionalidade e apoiar a liderança a conduzir essa transição com foco no cliente e sustentabilidade financeira.
O mesmo vale para a agenda ESG. Em um setor onde cada embalagem, cada fornecedor e cada posicionamento público impactam diretamente a imagem da marca, o papel do Conselho é o de garantir coerência entre discurso e prática. Não se trata apenas de aprovar relatórios ‘bonitos’, mas de zelar para que a cultura da empresa seja compatível com o mundo em que vivemos: mais transparente, ético, inclusivo e responsável. A integridade na forma de operar e o compromisso com causas reais passaram a ser diferenciais de competitividade, especialmente entre as novas gerações de consumidores.
Em meio a esse cenário complexo, o papel do conselheiro é o de ser presença ativa e propositiva, mas também ética e isenta. Ouvir com atenção, contribuir com experiência, zelar pelo longo prazo. Uma das maiores fortalezas de um Conselho é sua capacidade de pensar além do dia a dia da operação, sem perder a conexão com a realidade. É esse equilíbrio que traz valor – e credibilidade – à governança.
A diversidade dentro dos Conselhos não é uma pauta acessória. Empresas que falam com públicos diversos, como é o caso do varejo, precisam de Conselhos que reflitam essa pluralidade. A diversidade qualificada – de gênero, gerações, trajetórias e visões – enriquece os debates, amplia a compreensão dos desafios e fortalece a legitimidade das decisões. Já participei de discussões em que perspectivas diferentes foram justamente o que permitiu a construção de soluções mais inovadoras e sensíveis à realidade do cliente final.
O varejo continuará a ser, por natureza, sempre desafiador, mutante. As transformações não cessam, e a velocidade com que elas chegam exige uma governança preparada para lidar com a incerteza sem perder o propósito. Ter um Conselho presente, ético, estratégico, preventivo e comprometido com a evolução do negócio é um dos ativos mais importantes para qualquer empresa do setor que deseje não apenas sobreviver, mas se reinventar continuamente. A governança, quando bem exercida, não é peso – é impulso. E, no varejo, esse impulso faz toda a diferença.
SANDRA COMODARO
Administradora, advogada e pós-graduada pelo Mackenzie-SP, é conselheira de empresas e também de entidade de classe. Fundadora e idealizadora do Grupo Conselheiras, que reúne quase 2 mil C-Levels e conselheiras nas maiores empresas do Brasil e exterior. Coautora do livro O Protagonismo das Mulheres nos Negócios.
Fonte Oficial: https://agenciadcnews.com.br/artigo-por-sandra-comodaro-a-importancia-do-conselho-no-varejo/