in

ARTIGO, por Adalberto Leister Filho: “Fair Play Financeiro é necessário para garantir igualdade competitiva”

Aparentemente, o futebol brasileiro ganhará, até o final do ano, regras para o chamado Fair Play Financeiro (FPF). Se você chegou agora para o mundo esportivo, são estabelecer regras claras de mercado para que os clubes sejam economicamente sustentáveis e tenham boas práticas de gestão e governança, algo essencial para qualquer atividade que movimente muito dinheiro, como o futebol.

Por que esse item é tão importante para quem gere uma instituição esportiva? Por um lado, a tendência do torcedor é pensar que um time de futebol é estruturado para ganhar campeonatos, não para dar lucro. Isso é verdade.

No entanto, muitas vezes, as equipes podem ser beneficiadas por um ‘doping financeiro’. Ou seja, ganham vantagem competitiva artificial ao manter falhas de gestão, que colocam sua própria instituição em risco no médio e longo prazo. Tudo visando um ganho imediato, como a conquista de um título importante ou até fugir do rebaixamento.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Recentemente, o presidente do Cuiabá, Cristiano Dresch, reclamou que Atlético-MG, Corinthians, Grêmio e Santos devem mais de R$ 40 milhões ao seu clube por negociação de atletas. Para clubes com menor capacidade de arrecadação, a venda de jogadores é muitas vezes uma saída para equilibrar receitas e despesas. Não se os parceiros nessas negociações, beneficiados por esses reforços, não pagam o que devem.

Prejudicado por esses problemas financeiros, além do mau desempenho em campo, o Cuiabá acabou em último lugar no Campeonato Brasileiro 2024 e foi rebaixado à Série B. Atlético-MG, Grêmio e Corinthians se mantiveram na elite. O Santos [que estava na Série B] conseguiu o acesso e disputa a primeira divisão nesta temporada.

O torcedor pode até estar preocupado é com o desempenho de seu time do coração neste ano. Mas esse endividamento terá efeito bola de neve, inviabilizando a operação do clube daqui algumas temporadas. Foi o estado de insolvência que gerou o rebaixamento do Cruzeiro em 2019 e seu longo purgatório de três anos na Série B. Creio que nenhum torcedor deseja isso para o clube de coração.

A situação atual é preocupante. Segundo o Relatório Convocados, divulgado no início do mês, as dívidas dos principais clubes do Brasil aumentaram 22% em 2024. Em quatro anos, o salto foi de 47,3%. Há times em situação mais preocupante. Só para citar os endividamentos que já passaram do bilhão de reais, cito de novo o Relatório Convocados, com montantes do balanço financeiro de 2024: Corinthians (R$ 2,343 bilhões), Atlético-MG (R$ 2,304 bi), Botafogo (R$ 1,21 bi), Cruzeiro (R$ 1,158 bi) e São Paulo (R$ 1,088 bi). Dá 20% dos clubes que estão na principal divisão do futebol brasileiro.

O que fazer para reverter essa situação? Em primeiro lugar, os clubes têm que adotar práticas de gestão mais modernas, eficazes e racionais. Não dá para gastar o que não tem para tentar artificialmente competir com um rival em melhor situação econômica no momento.

Clubes que enfrentaram grandes dificuldades financeiras em anos passados, como Flamengo e Palmeiras, são hoje os dominantes no futebol brasileiro com grande capacidade de arrecadação e equilíbrio financeiro.

A solução no plano macro está sendo formatada neste momento. Após consulta da CBF, foi criado o Grupo de Trabalho (GT) que irá implantar as regras do Fair Play Financeiro a serem seguidas no futebol brasileiro. Um total de 36 instituições, entre times das Séries A e B, além de federações estaduais, se inscreveram para participar.

A primeira reunião será realizada logo após o fim da Copa do Mundo de Clubes da Fifa. A partir daí, o GT terá 90 dias para a criação de um regramento. É esperado que, com a participação de representantes de diferentes divisões, regiões e capacidades financeiras seja possível adaptar essas regras da melhor maneira à realidade do futebol brasileiro.

ADALBERTO LEISTER FILHO
Diretor de conteúdo da Máquina do Esporte, professor de pós-graduação na Faculdade Cásper Líbero (São Paulo), palestrante e autor de livros. É especialista em marketing esportivo e comunicação estratégica, com passagens por grandes veículos como Folha de S.Paulo, O Globo, Record, CNN Brasil e UOL. Atuou na liderança de equipes e na cobertura de eventos internacionais. Formado em Jornalismo e mestre em História pela USP

Fonte Oficial: https://agenciadcnews.com.br/artigo-por-adalberto-leister-filho-fair-play-financeiro-e-necessario-para-garantir-igualdade-competitiva/

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Destaque na Bienal do Rio, Pedro Bandeira terá obra adaptada ao cinema