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ARTIGO, por Rafael Cortez: “O que esperar do líder político? Reflexões à luz da corrida presidencial”

A coluna anterior chamou atenção para a economia política do atraso, ou seja, da configuração dos interesses de classes e grupos particulares com peso relevante nas instituições representativas. A falta de acordo mínimo entre os organizadores partidários da esquerda e direita colocam o Brasil em uma paralisia decisória em torno da política fiscal gera um custo elevado de capital, ajudando a explicar os desafios do desenvolvimento econômico e social do país.

Essa coluna trata de um fator, em particular, do ambiente político à luz da agenda econômica. A motivação para o tema da coluna está associada a antecipação do calendário eleitoral levada a cabo por governo e oposição, inflamando as expectativas quanto ao efeito do resultado da corrida presidencial para o cenário econômico brasileiro. A pesquisa divulgada pela Quaest/Genial mostrou que 61% dos brasileiros acham que o Brasil está na “direção errada”, ou seja, ambiente que abre espaço para eventual alternância de poder.

Há, contudo, há uma curiosidade minha na interpretação da liderança política no debate público brasileiro. Minha impressão é que o lugar ocupado por referências à pessoa do líder parece fora do lugar com toda a tradição de estudos e pesquisas sobre os caminhos do desenvolvimento econômico e social. É difícil mapear a origem da discussão acerca da importância do líder para o mundo da política.

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Não erraremos muito se optarmos pela obra O Príncipe de Maquiavel, como um exemplo de trabalho que joga muitas expectativas em torno do líder político. Preocupado com as dificuldades de formação do Estado Moderno do que hoje seria o que conhecemos como Itália, Maquiavel clama por um monarca virtuoso e escreve um trabalho a partir da História de atributos daqueles monarcas que deixaram um grande legado político.

Em alguma medida, a demanda contemporânea por um líder com “capacidade política” ou alguém com “vontade política” para fazer as reformas estruturais, revisita a demanda por esse líder extraordinário. Há uma interpretação de uma espécie de decadência da política brasileira justamente pela queda na qualidade dos presidentes da República; de um mundo de FHC e Lula (na versão dos dois primeiros mandatos) passaríamos a ter presidentes sem capacidade política. Dilma e Bolsonaro costumam ser os exemplos do efeito de presidentes sem habilidade política.

A política profissional típica do mundo com sufrágio universal trouxe outro olhar para o líder político. Max Weber construía sua análise da dominação carismática como um atributo “antigo”; no mundo moderno não teríamos obediência a um líder, mas há um conjunto de regras impessoais. Freud chamou atenção para o efeito dos líderes no comportamento das massas, indivíduos acríticos se comportando por lealdade a esse líder; alguns inclusive sugerem que o personalismo Lula versus Bolsonaro seria a causa da polarização política do país.

Assim, qual seria o peso e a importância que deveríamos dar ao líder político e seus efeitos para reformas econômicas e construção democrática? A política contemporânea é a política da visão cega a um líder ou a política sem líderes? A consultoria Morning Consulting sistematicamente traz o capital político dos atuais líderes de governo. Uma rápida observação dos dados aponta para baixa popularidade dos principais tomadores de decisões no mundo. Entre as grandes democracias, em apenas sete delas os atuais mandatários têm avaliação positiva acima de 50%.

Narenda Modri da Índia lidera o ranking com 78% de aprovação, ainda que a política indiana não esteja propriamente vivendo o auge da ordem democrática. O exotismo do presidente americano, Donald Trump, ajuda a explicar parte desse desempenho. Mark Carney (Canadá) e Anthony Albanese (Austrália) possivelmente só estão nessa lista, pois representam adversários do cada vez mais impopular líder norte-americano.

Minha interpretação é que, de fato, líderes com atributos excepcionais são raros e nem sempre positivos. Sou partidário de que o poder político deve ser extremamente controlado, especialmente na era da radicalização. Assim, aguardo as eleições de 2026 com a expectativa de que mais uma vez conseguimos fortalecer a capacidade de “fazer política” dos partidos e lideranças partidárias para conseguimos superar a política movimentista, isto é, a política que representa interesses legítimos, mas que não se dispõe a organizar o outro e encontrar o eixo condutor de um governo.

A falta de organizações estáveis que organiza esquerda e direita em direção a um conjunto mínimo de reformas é o principal desafio para a política virtuosa do desenvolvimento.

RAFAEL CORTEZ
Doutor em Ciência Política (USP), professor do IDP-SP e sócio da Tendências Consultoria.

Fonte Oficial: https://agenciadcnews.com.br/artigo-por-rafael-cortez-o-que-esperar-do-lider-politico-reflexoes-a-luz-da-corrida-presidencial/

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