O faturamento do comércio varejista foi 8,7% maior do que o do mesmo período do ano passado, de acordo com o levantamento da FecomercioSP (Arte: TUTU)
Em meio à conjuntura complexa, marcada por juros altos e inflação persistente — mas de desemprego ainda baixo e renda familiar média estabilizada —, o varejo paulista cresceu de forma expressiva no primeiro trimestre. O faturamento do setor foi 8,7% maior do que o do mesmo período do ano passado, pelos dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Nessa esteira, o varejo da capital paulista também melhorou as receitas (8,3%), sustentando o desempenho positivo do setor como um todo no período. Os dados se alinham, de alguma forma, ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do País nos três primeiros meses do ano, divulgado há alguns dias pelo IBGE, que foi de 1,4%.
Na leitura da FecomercioSP, apesar da conjuntura desafiadora, o bom resultado está relacionado com o mercado de trabalho aquecido, que mantém a propensão das famílias ao consumo em alta, além de o mercado de crédito registrar expansão. Por outro lado, a Entidade demonstra preocupação quanto ao ritmo de endividamento e inadimplência a médio prazo, que pode afetar negativamente as vendas do varejo.
Aqui, vale reforçar que a elevação do faturamento não significa rentabilidade. Na verdade, parte do resultado do primeiro trimestre se explica pela disparada da inflação, que encareceu muitos produtos ofertados pelos varejistas sem contrapartidas às margens. Em 12 meses, o acumulado do IPCA está em 5,32%, até maio.
No terceiro mês do ano, o varejo paulista faturou, em números absolutos, R$ 126 bilhões, um crescimento de 7,4% em comparação com o mesmo período de 2024. É a maior receita para março desde o início da série histórica, em 2008.
Lojas de roupas e mercado automotivo puxam alta
Das nove atividades analisadas pela FecomercioSP, duas se destacaram no primeiro trimestre no Estado de São Paulo [tabela 1]: lojas de vestuário, tecidos e calçados — que cresceram 14,7% em relação ao mesmo período do ano passado —, e as revendedoras de autopeças e acessórios, com elevação de 13,9%. Esses segmentos, em especial, se alinham com o desempenho positivo das concessionárias de veículos (10,6%), na conformação de um trimestre positivo para o mercado automotivo.
No primeiro caso, a Federação nota que o segmento de vestuário retomou o vigor que havia perdido na pandemia da covid-19 — e que, até o ano passado, ainda apresentava bons números. Entretanto, frente ao quadro de inflação persistente pressionando o orçamento familiar, além da elevação da inadimplência, as vendas do segmento podem sofrer desaceleração nos próximos meses. Na capital, vale dizer, a atividade também cresceu bem: 10,7%.
Já no segundo caso, dos setores que conformam o mercado automotivo, alguns fatores explicam o trimestre tão positivo, como a renovação das frotas em cidades do interior. Outro é a concessão de crédito de longo prazo, usual para esse tipo de aquisição, aliada aos estímulos tributários do governo. Mas, ainda assim, chama a atenção a expansão das receitas das concessionárias em um cenário de juros altos, que tendem a desacelerar essa demanda.
Na verdade, todas as atividades que compõem a pesquisa cresceram no Estado, com destaques ainda para as farmácias e perfumarias (alta de 9,4%) e as lojas de eletrodomésticos e eletroeletrônicos (8,5%).
Eletrônicos encabeçam desempenho na metrópole
Se as roupas e os carros deram a tônica do faturamento do varejo no Estado, na capital, o segmento mais pujante do primeiro trimestre foi o de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, que aumentou as receitas brutas em 16,9% [tabela 2]. Ainda que se trate de uma atividade mais sensível ao volume do crédito — e que, portanto, corra o risco de desacelerar se os juros permanecerem altos —, as promoções mais fortes dos varejistas parecem estar surtindo efeito sobre os consumidores. No acumulado de 12 meses, a alta é de 19,6%.
Outro destaque da cidade foram as lojas de móveis e decoração, que expandiram o faturamento em 13,9% no primeiro trimestre, impactadas pelo aquecimento do setor imobiliário herdado da pandemia. Aqui, é importante ressaltar que, por ser a atividade de menor receita, são comuns grandes variações porcentuais para cima ou para baixo.
Se o varejo do interior paulista mostrou mais força em itens essenciais e bens de consumo recorrente, como farmácias e vestuário, a capital tem mais vigor em segmentos de duráveis e de alto valor agregado, como os eletroeletrônicos.
Para a FecomercioSP, é relevante observar para os primeiros indícios de desaceleração do consumo no Estado, principalmente porque muitos segmentos são mais suscetíveis ao ritmo da concessão de crédito de curto e médio prazos — especialmente no caso da capital. Se os juros permanecerem elevados (taxa Selic está em quase 15% hoje), a tendência será de uma queda brusca nesse ritmo já nos próximos trimestres. Isso sem contar a inflação, que segue alta mesmo com o ciclo de alta da taxa Selic.