Por anos, venho discutindo esse tema, porque acredito que a maternidade é a única diferença real entre homens e mulheres no mundo corporativo. A ascensão profissional sempre esteve atrelada à disponibilidade absoluta, sem concessões à vida pessoal. Neste cenário, a presença das mulheres no mercado de trabalho ainda representa um enorme desafio social e continua nos penalizando.
Até hoje, não consigo entender quem criou a ideia de que há uma pessoa no trabalho e outra fora dele, como se a vida pessoal não interferisse na vida corporativa.
Com a implementação do ESG, o fortalecimento da liderança feminina e a comprovação de que diversidade traz lucro, as empresas não podem mais ignorar a questão da maternidade. No entanto, a jornada ainda é longa.
OS DADOS QUE EXPÕEM O PRECONCEITO – O Instituto Mulheres do Varejo revelou, em seu estudo Mitos e Verdades no Mundo Corporativo, números que mostram como a maternidade segue sendo um obstáculo para a carreira feminina:
84% das mulheres e 79% dos homens reconhecem que há preconceito contra profissionais que engravidam.
73% das mulheres concordam que há dificuldade de recolocação após a maternidade – 65% dos homens também reconhecem isso.
49% das profissionais acreditam que engravidar prejudica suas chances de crescimento na empresa.
Existe um viés inconsciente chamado “mãe penalizada”, que coloca em dúvida a capacidade e dedicação das mães no trabalho.
Estamos em pleno século 21, e ainda discutimos formas de melhorar a equidade de gênero para construir negócios mais sustentáveis e inovadores.
PEQUENAS INICIATIVAS, GRANDES MUDANÇAS – Recentemente, conseguimos implementar uma área de amamentação na feira corporativa Naturaltech 2025 – algo simples, mas revolucionário. Foram muitas tentativas para convencer líderes de outros eventos corporativos. Ouvi diversos “nãos”, com justificativas absurdas, como: “Mães não levam bebês a feiras de negócios.”
Apenas mulheres sabem o sacrifício de armazenar leite materno antes de viajar, ou como nossos peitos incham e ficam doloridos por ficarmos horas sem amamentar. Por isso, ter mulheres na liderança – como acontece na Naturaltech – facilitou a implementação dessa mudança.
Elas entendem, e foi mais simples convencê-las da necessidade de um ambiente corporativo mais inclusivo. A maternidade não é uma questão individual; temos a responsabilidade de criar cidadãos saudáveis. Mas, como o mercado foi desenhado por homens, muitas lacunas e equívocos ainda persistem.
O PAPE DA LIDERANÇA MASCULINA – Nunca esqueço o relato de uma executiva da indústria farmacêutica que, ao anunciar sua gravidez, recebeu como benefício um estagiário para dirigir para ela. “E quem disse que preciso de alguém dirigindo para mim? Não estou doente. Estou criando um cérebro dentro de mim e vocês acham que não tenho condições de dirigir?”
Esse pensamento retrógrado e paternalista precisa ser desconstruído. A liderança masculina, que ainda ocupa os principais cargos de decisão, precisa ser aliada desse movimento.
Empresas que não implementam políticas de apoio às mães estão fadadas a perder talentos e enfrentar dificuldades na atração e retenção de profissionais qualificadas. Além disso, muitos líderes também são pais – e a responsabilidade na criação dos filhos é das duas pessoas. O modelo de licença parental compartilhada evita que somente as mulheres carreguem o peso da chegada das crianças.
A maternidade não pode mais ser tratada como uma pauta feminina. Ela é uma estratégia empresarial inteligente, e empresas que enxergam isso terão um futuro mais forte, diverso e lucrativo.
SANDRA TAKATA
Jornalista, presidente do Instituto Mulheres do Varejo, LinkedIn Top Voice, palestrante, coordenadora e coautora do livro Mulheres do Varejo – Mulheres que Constroem a História do Varejo no Brasil.
Fonte Oficial: https://agenciadcnews.com.br/artigo-por-sandra-takata-desenhado-para-homens-mundo-corporativo-ainda-peca-sobre-maternidade/