A FecomercioSP reforça a necessidade de que o Congresso Nacional revogue a exigência de vistos (Arte: TUTU)
A reintrodução da exigência de vistos para turistas dos Estados Unidos, do Canadá e da Austrália já começa a mostrar efeitos negativos no setor de Turismo brasileiro. Desde que a regra entrou em vigor, no dia 10 de abril, os números mostram uma queda de 5,8% no fluxo de visitantes desses três países, segundo dados da Embratur analisados pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
A retração interrompe uma sequência de crescimento registrada nos meses anteriores: em janeiro, fevereiro e março, o número de turistas provenientes dessas nações havia crescido mais de 24% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em abril, no entanto, os resultados mudaram de direção.
Os canadenses lideram a queda, com retração de 10,9%, seguidos pelos estadunidenses (-4,7%) e pelos australianos (-2,5%)
Segundo a FecomercioSP, o impacto vai além dos números de entrada, pois trata-se de uma perda substancial para a economia do setor, já que esses turistas têm maior poder aquisitivo e costumam gastar mais em hospedagem, gastronomia, transporte e cultura.
“Perde o Brasil, com a redução de gastos dos turistas internacionais desses países, e perde o Turismo, que deixa de vender diárias, refeições e serviços”, aponta o presidente do Conselho de Turismo da Entidade, Guilherme Dietze.
Comparação com Japão reforça impacto da exigência
A análise aponta ainda um contraste relevante. O Japão, por exemplo, que tem um acordo bilateral de isenção de vistos, passou de 4,8 mil para 5,6 mil japoneses entrando no Brasil entre os meses de abril de 2024 e 2025 — um aumento de 15%.
A comparação reforça a tese de que a exigência de vistos desestimula viagens ao Brasil, principalmente de mercados que demandem planejamento com antecedência, como os da América do Norte e da Oceania.
Aumento de turistas argentinos não compensa perdas
Apesar de o número de turistas argentinos ter mais que dobrado no mês — o que, à primeira vista, poderia parecer um bom sinal —, a FecomercioSP destaca que esse crescimento não compensa as perdas. Os argentinos têm perfil de consumo diferente, com estada e gasto médio inferiores, sendo impulsionados por um cenário conjuntural (crise econômica e câmbio favorável), e não por políticas de incentivo.
Federação defende aprovação do PDL 206/2023
A FecomercioSP reforça a necessidade de que o Congresso Nacional aprove o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 206/2023, que revoga a exigência de vistos. A iniciativa já passou pelo Senado e aguarda votação na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.
Embora reconheça a justificativa do governo federal baseada na reciprocidade — já que brasileiros precisam de visto para entrar nesses três países —, a Federação argumenta que o Brasil sai perdendo economicamente ao adotar a exigência unilateral.
“É plausível a argumentação da reciprocidade. No entanto, ela não se sustentará na prática. Enquanto isso, a medida gera perda de competitividade para o País no cenário internacional e precisa ser revista com urgência pelo Legislativo”, conclui Dietze.
Com os dados já sinalizando queda no fluxo e prejuízo direto ao faturamento do setor, a expectativa, agora, recai sobre o Congresso, que pode reverter a medida e devolver ao Brasil uma posição mais atrativa no Turismo mundial.