Poucos dias atrás, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), que trouxe o resultado das vendas do varejo registrado em dezembro de 2024. O IBGE divide os resultados entre o chamado varejo restrito, que não inclui vendas de veículos e motos, material de construção e “atacarejo”, e o varejo ampliado, que engloba todos os segmentos. Quando esse tipo de estatística é divulgado, se apresentam vários tipos de comparação, devendo-se analisar a informação que cada uma pode nos estar entregando.
Assim, no contraste com o mês de novembro, eliminando-se os efeitos sazonais, ou seja, aqueles provocados por datas específicas, que podem afetar a comparação, como o Natal, por exemplo, observam-se quedas nos dois tipos de varejo de 0,1% e 1,1%, respectivamente. Essas quedas, principalmente no segundo caso, podem sinalizar uma acomodação das vendas, na melhor das hipóteses, ou ainda o início de uma desaceleração das mesmas. Do ponto de vista anual (variação acumulada no ano e em 12 meses), o
crescimento das vendas do varejo veio forte, 4,7% para o varejo restrito e 4,1% no caso do ampliado. Também comparando a evolução interanual, ou seja, em relação ao mesmo mês de 2023, os resultados também foram positivos, com aumentos de 2% e 1,4%, respectivamente.
Que fatores econômicos explicam as quedas mensais e as elevações anuais das vendas do varejo? Na verdade, trata-se dos mesmos que tipicamente explicam seu comportamento: renda, emprego, crédito e taxa de juros. Os resultados são contrapostos, pois a evolução dos fatores anteriores não foi homogênea ao longo de 2024. Durante grande parte do ano houve crescimento da renda, do emprego e, principalmente durante o primeiro semestre, do crédito. Combinados, esses fatores atuaram impulsionando o consumo, ao compensar as taxas de juros elevadas, que atuam em sentido contrário. No transcurso da segunda metade de 2024, houve menor crescimento das concessões de crédito e aumentos da taxa básica de juros (Selic), além de menor geração de empregos do que se esperava para o fim do ano.
O que podemos esperar para 2025?
A sinalização do Banco Central é de manutenção da taxa básica em patamares elevados, com elevação de 1 ponto percentual “contratada” para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em março. Sabe-se que o efeito negativo de um aumento da Taxa Selic sobre a atividade econômica, notadamente no consumo das famílias e no investimento produtivo, tarda algum tempo em se manifestar. Isso ocorre, pois, por um lado, o encarecimento do crédito destinado ao consumo se dilui na prestação se o prazo de financiamento é suficientemente longo, e, por outro, porque as empresas necessitam de tempo para alterar suas decisões de investimento frente à elevação do custo financeiro.
De todo modo, o encarecimento do crédito proveniente desse ciclo de “aperto monetário” deverá em algum momento se refletir na desaceleração da atividade econômica, o que diminuirá a geração de emprego e renda. No caso da renda, a diminuição das transferências por parte do governo federal, alinhada às maiores dificuldades fiscais, também contribuiria para seu desempenho mais fraco. Esse cenário futuro mais adverso já começa a reduzir a confiança do consumidor, que segundo o Índice Nacional de Confiança do Consumidor (INC), diminuiu em fevereiro, passando para o “campo pessimista”.
A perspectiva de menor crescimento do emprego e da renda, com crédito mais caro e escasso e um consumidor mais “cauteloso”, deverá provocar uma “perda de fôlego” das vendas do varejo, que, de acordo com o modelo de previsão desenvolvido pelo Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo (IEGV-ACSP), deverá terminar 2025 crescendo ao redor de 2%.
ULISSES RUIZ DE GAMBOA é economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo.
Fonte Oficial: https://agenciadcnews.com.br/artigo-por-ulisses-ruiz-de-gamboa-quo-vadis-varejo/