As vendas do comércio no ano passado, no seu conceito restrito, segundo os dados divulgados pelo IBGE, registraram crescimento de 4,7%, bastante próximo da projeção do Índice Nacional de Confiança (INC) elaborado pelo Instituto de Economia Gastão Vidigal (IEGV). O varejo ampliado registrou queda no final do ano, mas fechou com aumento de 4,1%.
Apesar desse crescimento expressivo do total das vendas gerais,
hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo,
combustíveis e lubrificantes, equipamentos e material para
escritório, informática e comunicação e livros, jornais, revistas e
papelaria, registraram queda. No varejo ampliado, veículos foi a principal contribuição para o resultado positivo do indicador geral, enquanto o “atacarejo” apresentou queda.
Dentre os fatores que contribuíram para o bom desempenho do varejo em 2024, pode-se destacar o aumento da renda e do emprego, as fortes transferências de renda, e a expansão do crédito. Deve-se destacar, contudo, que o crescimento das vendas foi relativamente maior no primeiro semestre, e que gradativamente foi ocorrendo desaceleração do ritmo no segundo, em função da diminuição da concessão de crédito à pessoa física.
Considerando o resultado de dezembro, pode-se considerar que a
perspectiva para 2025 é de menor crescimento das vendas, em
razão da desaceleração da renda e do emprego, decorrente dos
altos níveis das taxas de juros, do alto grau de endividamento das
famílias e da inflação, principalmente de alimentos e serviços. Esse cenário tem contribuído para diminuir a confiança do consumidor, conforme revela o INC do IEGV, o que indica que as compras deverão se concentrar mais em itens básicos, como artigos farmacêuticos e supermercado.
A expectativa, no entanto, não é de recessão, mas de desaceleração do crescimento. Para o comércio, especialmente o presencial, e o pequeno varejo em geral, significa que a competição será mais acirrada, e exigirá maior criatividade para competir em um mercado menos favorável.
Quando se fala mais criatividade não significa apenas usar a imaginação para atrair o consumidor, mas, principalmente, o uso da tecnologia, o aperfeiçoamento dos controles de estoques e das compras, e uma política de preços compatível com o cenário. É preciso, no entanto, preservar a margem, pois, como dizia um antigo comerciante, “vender com prejuízo não dá lucro”.
O Sebrae e outras instituições oferecem cursos para os pequenos varejistas e a Associação Comercial de São Paulo, além da orientação, oferece apoio para as vendas virtuais. O importante é que o empresário tenha clareza da situação, que não é de recessão, mas de dificuldades maiores, compreenda que o mercado continua existindo, e que ao invés do pessimismo ou conformismo, busque seu caminho nesse mercado.
Como dizia Gramsci, “seja pessimista na análise e otimista na
ação”.
MARCEL SOLIMEO
É economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal (IEGV), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Fonte Oficial: https://agenciadcnews.com.br/artigo-marcel-solimeo-2025-menor-crescimento-em-vendas/