Participei, recentemente, de uma reportagem sobre as mulheres no franchising brasileiro. De acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), as mulheres passaram a ser maioria na atuação das franquias em terras verde amarelas. Estudos mostram que 57% das mulheres são gestoras neste setor. Isso me levou a pensar em como o mundo corporativo é preconceituoso. De um lado, mulheres extremamente capacitadas, no entanto, ainda fica a cargo delas, o cuidado com família, casa e o equilíbrio de sua própria vida e da empresa. Como elas não encontram espaços, pois uma boa parte das corporações não são flexíveis, empresas acabam perdendo grandes talentos.
Eu sempre digo que quando nasce uma mãe, nasce uma grande gestora. No entanto, das cerca de 400 empresas listadas na Bolsa da Valores, apenas cinco tinham uma CEO mulher em 2024. Com tanto preconceito, muitas acabam optando pelo empreendedorismo, pois abrindo o seu próprio negócio, elas conquistam a liberdade financeira e conseguem ter mais flexibilidade em seus horários. Estudos da empresa Teva Indíces revelam que mais de 56% das empresas não contam com nenhuma mulher na diretoria, no conselho fiscal ou no comitê de auditoria. Dos 1.929 homens conselheiros, temos 14,8% de mulheres na mesma posição, ou seja 336 (um avanço por causa das pressões para que empresas tivessem diversidade de gênero para receber investimentos).
Se temos mais mulheres chefes de família, cada vez mais mulheres empreendedoras, mais no franchising, o que ocorre neste mundo corporativo que não dá oportunidades para o gênero feminino? Será que não perdemos grandes talentos porque o mundo não dá a devida importância para nós, que somos responsáveis por gerar um ser humano? A gravidez é a única diferença que usam como desculpa para não contratar, mas somos responsáveis por gerar cidadãos saudáveis que serão clientes dessas empresas. Um grande paradoxo.
Quando ouvimos sobre o término de programas de diversidade, não entendem que não é somente uma questão de capacidade intelectual, pois nós mulheres temos vários outros fatores sociais para que possamos movimentar o ponteiro da equidade. Todos os dias temos de fazer mais esforço para mostrar que somos eficientes numa empresa. Olhem, por exemplo, a participação das mulheres em cursos de Ciências da Computação e Engenharia. Ainda é muito baixa. Mas isso tem uma raiz. Desde pequenas não somos “capacitadas” a lidar com o lado técnico do mundo de exatas e sim o lado de cuidados humanos. Em nosso colo, bonecas chegam e menos brinquedos espaciais para montar caem em nossas mãos. Conversando com uma amiga, que dá aulas em faculdades, ela ainda ouve pais dizendo às filhas que decidem cursar TI: “Esse ambiente não é para você.”
E não é vitimismo. Se não contarmos com Ciências da Computação e Engenharia, as mulheres ocupam a maioria das cadeiras nas universidades brasileiras. Nós procuramos o desenvolvimento para mostrar nossa capacidade, já que diziam ser esse o gap. Só precisamos tirar a Síndrome de Impostora que ainda impera e nos faz desacreditar de nós mesmas. Tanto que atualmente, quando falamos de people skills, muitas habilidades estão relacionadas às qualidades femininas: empatia, resolução de conflito, adaptabilidade. Junto aos homens, num time diverso (e já foi comprovado em várias pesquisas) trazemos mais inovação e mais faturamento para as empresas.
Estudo realizado pela ONU Mulheres mostra que empresas com maior diversidade de gênero em cargos de liderança são propícias a ter um melhor desempenho financeiro, maior retorno sobre investimento (ROI) e lucratividade. Além disso, tem maior retenção dos colaboradores, sem dizer na imagem positiva em sua construção de reputação, essencial para se diferenciar atualmente. Por isso, não estou dizendo que queremos ocupar o lugar dos homens, mas queremos ter as mesmas oportunidades. Eu até canso de falar, escrever, discursar em palestras sobre o tema, mas enquanto a comunicação não se tornar COMUM + AÇÃO, vamos repetir mais e mais vezes, pois somos incansáveis e queremos deixar dias mais inteligentes para a futura geração!
SANDRA TAKATA
Jornalista, presidente do Instituto Mulheres do Varejo, LinkedIn Top Voice, palestrante, coordenadora e coautora do livro Mulheres do Varejo – Mulheres que Constroem a História do Varejo no Brasil.
Fonte Oficial: https://agenciadcnews.com.br/artigo-por-sandra-takata-preconceito-x-perda-de-talentos/