“Além desse cenário, a reforma tributária traz preocupações adicionais. Apesar da redução de 40% na alíquota padrão de 28%, espera-se um aumento efetivo da carga tributária para o setor”, destaca Dietze (Crédito: TUTU/FecomercioSP)
Por Guilherme Dietze*
É inegável que o turismo brasileiro atravessa um excelente momento. A FecomercioSP, inclusive, tem divulgado mensalmente recordes de faturamento do setor em âmbito nacional, evidenciando uma economia aquecida tanto para as empresas quanto para os consumidores.
No entanto, não se pode ignorar os desafios que o setor enfrentará em 2025. Um dos principais fatores que impactarão negativamente o fluxo financeiro das empresas, especialmente da hotelaria, é o fim dos recursos destinados ao Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse). De acordo com o relatório mais recente da Receita Federal, que apresenta dados até outubro do ano passado, já haviam sido utilizados pouco mais de R$ 7 bilhões em um período de seis meses, conforme demonstrado no gráfico ao final deste artigo.
Mantendo-se esse ritmo, a expectativa é que o montante total de R$ 15 bilhões se esgote até abril. Contudo, é importante destacar que o turismo tem seu período de maior movimentação durante a alta temporada, em dezembro e janeiro, o que pode acelerar a utilização dos recursos do Perse e antecipar seu término.
Além disso, a reintrodução da exigência de vistos para turistas dos Estados Unidos, Canadá e Austrália, a partir de abril, poderá, no curto prazo, desestimular a vinda de visitantes desses países. Soma-se a essa questão a possível exigência de visto para tripulantes das companhias aéreas, o que pode gerar complicações operacionais.
Curiosamente, o governo tem comemorado os recordes de entrada de turistas internacionais, mas não sinaliza qualquer intenção de reverter a exigência dos vistos, o que parece contraditório. Para ilustrar esse impacto, um levantamento da FecomercioSP, baseado em dados da Embratur, aponta que, em 2024, houve um crescimento de 9,5% na entrada de turistas provenientes dos três países mencionados, totalizando 878 mil visitantes. Os norte-americanos, em particular, ocupam a segunda posição no ranking de turistas internacionais no Brasil, ficando atrás apenas dos argentinos.
Outro fator que afeta a competitividade do País é o fato de que vizinhos como Argentina, Peru e Colômbia não exigem vistos para cidadãos dos Estados Unidos, Canadá e Austrália, tornando-se destinos mais atrativos para esses viajantes.
Além desse cenário, a reforma tributária traz preocupações adicionais. Apesar da redução de 40% na alíquota padrão de 28%, espera-se um aumento efetivo da carga tributária para o setor. Essa mudança, inevitavelmente, será repassada aos preços. Ademais, a nova alíquota ainda é significativamente superior à média de 11% praticada pelos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no turismo, reduzindo ainda mais a competitividade do Brasil no mercado internacional.
O aumento da taxa básica de juros também representa um entrave para o setor, afetando tanto os investimentos quanto a obtenção de crédito para manter o fluxo de caixa das empresas. Projetos de longo prazo podem ser postergados, pois o custo financeiro elevado inviabiliza determinados modelos de negócios, restringindo o crescimento da oferta turística.
Por fim, a possível fusão entre as companhias aéreas GOL e Azul merece atenção. Embora o processo de análise pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) leve algum tempo, a tendência é que a fusão seja aprovada com restrições. Caso isso ocorra, a busca por maior eficiência operacional pode resultar na redução de rotas e, consequentemente, na diminuição da concorrência, o que pode pressionar os preços e impactar negativamente alguns destinos turísticos.
Diante desse cenário, os empresários do setor precisam estar atentos aos desafios que se avizinham. Embora os recordes atuais sejam motivo de celebração, o foco agora deve estar na adaptação a uma economia em desaceleração e aos obstáculos que poderão dificultar o crescimento e a sustentabilidade do turismo brasileiro.
Fonte: Relatório da Receita Federal – Acompanhamento do Perse
* Guilherme Dietze é economista e presidente do Conselho de Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Artigo originalmente publicado no portal Hotelier News em 25 de fevereiro de 2025.
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Fonte Oficial: https://www.fecomercio.com.br/noticia/fim-dos-recursos-do-perse-e-outros-pontos-de-atencao-para-o-turismo