[AGÊNCIA DC NEWS]. Relatório da Moody´s sobre o novo ciclo de altas dos juros no Brasil sustenta que a Selic “em patamares elevados” neste ano vai reduzir o apetite dos bancos por risco e a demanda de crédito. Além disso, a combinação de juros, inflação “persistente” e depreciação cambial” deve pressionar o fluxo de caixa e reduzir a rentabilidade das empresas. “Embora os bancos tenham mudado suas estratégias de crescimento para empréstimos ao consumo sem garantia com margens mais altas em 2024, as possibilidades de empréstimos mais arriscados diminuirão em 2025, principalmente para pequenas e médias empresas (PMEs) e consumo, excluindo o segmento de consignado, devido à pressão inflacionária”, afirmou a agência no documento. “Isso sobrecarregará a capacidade de reembolso dos tomadores de empréstimos e agravará os níveis já elevados de endividamento das famílias.”
O crescimento do crédito abaixo de 10% em 2025 já é previsto pelo próprio Banco Central, diz a Moody´s. Isso depois de expansão de 10,9% em 2024, “incluindo 9,1% para empréstimos a empresas e 12,1% para empréstimos ao consumo”. Na análise da agência, crédito mais restrito e inflação elevada vão agravar “os níveis já elevados” de endividamento das famílias. No relatório, sempre com dados do BC, a Moody´s lembra que o endividamento das famílias com instituições financeiras atingiu 48,2% em novembro, ante 48,1% no mês anterior, e acima da média pré-pandemia (38,8%). Já o comprometimento de renda ficou estável (26,3%), permanecendo, segundo o BC, em trajetória declinante desde agosto. A variação em 12 meses é de -0,2 ponto percentual. “No segmento de atacado, os casos de falências, principalmente relacionados a PMEs, também aumentaram em 2024 em mais de 60% em relação a 2023 e foram 22% superiores ao pico histórico de 2016.”
Ainda de acordo com o relatório, setores com alta alavancagem “são particularmente vulneráveis, porque geralmente dependem de financiamento baseado em dívida local significativo para manter suas operações e gastos de capital”. A agência cita o setor imobiliário, serviços públicos e telecomunicações. Entre as empresas mais expostas a risco por juros altos, real fraco e inflação elevada, são citadas a companhia área Azul, a produtora de açúcar e etanol Usina Coruripe e os grupos de serviços petrolíferos Oceânica Engenharia e Consultoria. “No entanto, um enfraquecimento do real teria relativamente pouco efeito sobre grupos de financiamento de projetos e infraestrutura.” A Moody´s observa que a desvalorização do real “geralmente beneficia os exportadores e prejudica outras empresas que dependem excessivamente da dívida em moeda estrangeira para financiar suas operações”. Mas para a maior parte das companhias não financeiras avaliadas pela agência, essa depreciação tem impacto “bastante moderado” nas métricas de liquidez e alavancagem, já que elas têm “algum tipo de hedge natural ou mecanismos de hedge que reduzem o valor de sua dívida exposta às desvalorizações cambiais”.
A Azul é citada como exceção, com risco de sofrer duplo impacto “em sua já apertada liquidez devido ao efeito da depreciação do real sobre os custos e sua dívida denominada em dólares”. No setor de açúcar e álcool, a agência aponta a Raízen com risco relativamente alto devido ao enfraquecimento do real e taxa de juros mais altas, “mas ainda tem ampla liquidez para suportar esse período”. Os analistas acreditam que o impacto do crédito seria baixo para outras empresas “de grau especulativo”, como Arcos Dourados (McDonald´s), Localiza, Globo Comunicações e Participações, Rumo, Natura e General Shopping. “Apesar de sua exposição a taxas de juros altas e a um real fraco, todos têm liquidez suficiente ou os colchões de capital nas métricas de crédito devem permanecer bem posicionados em suas categorias de rating”, diz a Moody´s. “Os produtores de commodities geralmente se beneficiariam de um real depreciado, mesmo se alguns, como a Braskem, enfrentarem mais estresse cíclico.”
Vários fatores estão por trás da política monetária restritiva, diz a Moody´s: inflação acima da meta, expectativas de inflação não ancoradas e uma visão do BC de que a economia está crescendo “acima do potencial”, alimentando o custo de vida. “Esperamos que o crescimento real do PIB desacelere este ano para em torno de 2%, abaixo dos 3% observados dos últimos três anos, impulsionado por uma alta das taxas de juros e redução dos gastos governamentais”, afirmou a agência, acrescentando que o próprio BC aumentou sua projeção para a inflação, neste ano, de 3,9% para 4,6%. Na edição mais recente do Boletim Focus, divulgada na última segunda-feira (3), a expectativa do mercado para o IPCA é de 5,51% neste ano, novamente acima do teto da meta – a taxa foi de 4,83% em 2024.
Fonte Oficial: https://agenciadcnews.com.br/moodys-alta-dos-juros-vai-diminuir-o-apetite-dos-bancos-por-risco-e-afetar-o-credito/