Bases de dados padronizados e compartilhados entre instituições públicas e privadas. Empresas identificadas unicamente pelo número do CNPJ, sem a necessidade de outras informações. Digitalização de processos burocráticos e integração de sistemas entre os diversos órgãos de governo. Métodos de interlocução com a população sobre o uso de serviços digitais para aperfeiçoamento.
Se operações como essas ainda não são totalmente realidade no cotidiano atual do Brasil, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) espera que sejam planejadas e executadas pelo Poder Público para melhorar serviços oferecidos aos cidadãos e ao ambiente de negócios.
Por isso, a Entidade elaborou um conjunto de 11 propostas [veja abaixo] que, se postas em prática, podem acelerar o processo de transformação digital do Estado brasileiro. O documento, que já está sendo apresentado pela Entidade a autoridades em Brasília, seguirá como parte de encontros entre porta-vozes da Federação com membros do Poder Público em todas as instâncias governamentais. Recentemente, por exemplo, o Conselho de Economia Digital e Inovação da FecomercioSP apresentou algumas dessas propostas ao secretário de Gestão e Governo Digital do Estado de São Paulo, Caio Paes de Andrade, e ao secretário extraordinário para a Transformação Digital do Estado do Ministério da Gestão e da Inovação e Serviços Públicos, Francisco Gaetani, em reuniões paralelas.
Todas as propostas, vale dizer, estão em consonância com a agenda institucional da Federação em torno da modernização do Estado brasileiro, que ainda conta com vertentes como a atualização da estrutura administrativa estatal, a redução da burocracia e a melhoria na qualidade da execução do orçamento público.
Brasil em transformação digital
Até um passado recente, o Brasil era um dos países mais atrasados em relação à transformação digital. Contudo, atualmente, uma série de iniciativas, como a plataforma Gov.br, já mudou esse cenário.
Ainda assim, é necessário acelerar o processo. Na última edição do E-Government Survey, levantamento realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para mensurar a digitalização governamental dos países, o Brasil ocupava a 49ª posição no ranking. Em 2016, estava na 51ª colocação. Apesar dessa tímida melhora, o País ainda está atrás de vizinhos como o Uruguai (35º) e o Chile (36º).
No contexto interno, os dados também apontam para uma realidade de avanço, mas que precisa acelerar: segundo o Ministério de Gestão e Inovação, 4 em cada 10 (44%) unidades federativas dispõem de estratégias digitais definidas, número que cai para 28% quando se observa o universo das cidades.
É por isso, inclusive, que um dos pilares da transformação digital brasileira passa, na visão da FecomercioSP, por uma integração de plataformas entre as três esferas de governo (federal, estadual e municipal).
Propostas para digitalizar o País
Para a Federação, algumas iniciativas podem ser tomadas, mesmo que de forma gradual, avançando com a digitalização dos serviços públicos. Um conjunto de 11 propostas foi elaborado a partir de encontros com os setores produtivos do ambiente digital e estudos técnicos produzidos, principalmente, pelo Conselho de Economia Digital e Inovação da Entidade.
Uma das principais propostas é, por exemplo, avançar na interoperabilidade de dados entre bases públicas e o setor privado. Isso depende, em primeiro lugar, da abertura dessas informações por parte do governo (com base no consenso dos usuários, seguindo as regras da Lei Geral de Proteção a Dados — LGPD) e, então, de uma integração e padronização entre esses dados e os serviços oferecidos pelo ambiente empresarial — que, assim, teriam condições de criar e oferecer produtos e serviços mais personalizados e eficientes. A autenticação das informações pode ser realizada por meio da plataforma do Gov.br.
Outro passo fundamental é transformar o CNPJ em um identificador único da inscrição cadastral de negócios com o Poder Público. Hoje, cada empreendimento depende de uma série de certidões e documentos oficiais que dizem respeito a diferentes padrões de interação com o Estado. Ao unificar o cadastro, seria mais fácil pagar tributos, entregar obrigações acessórias e solicitar serviços públicos.
Da mesma forma, o aplicativo Gov.br poderia concentrar todo o serviço de classificação de risco das atividades econômicas, que, hoje, é disperso entre cada legislação municipal. A digitalização desse processo, do qual depende a liberação de alvarás de funcionamento, não apenas traria celeridade para a abertura de empresas como tornaria o ambiente de negócios mais transparente.
As propostas ainda incluem programas de capacitação para funcionários públicos; criação de sistemas de feedback dos usuários nas plataformas públicas para identificação e eventuais gargalos e aperfeiçoamento dos serviços disponibilizados; e uso do Gov.br em serviços privados e organizações sociais, além dos aprimoramentos da plataforma, da digitalização e da automação de trâmites ainda analógicos.
Essas proposições também reúnem objetivos estruturais, como programas de educação tecnológica em escolas, alterações nas grades curriculares e políticas públicas que levem conexão com a internet às regiões mais carentes do País.
Segundo a FecomercioSP, se esse caminho for seguido desde já, haverá uma possibilidade real de o País avançar na agenda de eficiência do Estado e de melhoria dos serviços aos cidadãos — o que, no longo prazo, significa um Poder Público menos burocrático e mais acessível à população.
ONZE PROPOSTAS DE TRANSFORMAÇÃO DIGITAL DO BRASIL
FecomercioSP
- Promover uma interoperabilidade de dados entre os setores público e o privado, a começar pela abertura dessas bases pelo governo, permitindo (com o consentimento dos usuários) que sejam utilizadas como informações para personalizar produtos e serviços de maneira mais eficiente e direcionada, além de conduzir políticas públicas.
- Ampliar a plataforma do Gov.br para uso em serviços privados e organizações sociais, além de aumentar o escopo de serviços públicos oferecidos, integrando as três esferas de governo e tornando-a mais intuitiva, acessível a abrangente. Já existem pilotos em curso para integrar componentes do Gov.Br (com o login ou o Conecta Gov.Br) com plataformas privadas, mas esses projetos precisam de mais prioridade e rapidez.
- Centralizar todos os cadastros empresariais no número do CNPJ, eliminando o excesso de certidões e documentos comprobatórios das operações das empresas nos mais variados órgãos de governo. A viabilidade desse sistema requer a colaboração entre as esferas governamentais, integrando canais para facilitar o acesso e a gestão dessas informações.
- Centralizar, da mesma forma, todos os processos de obtenção de alvarás de funcionamento e de classificação de risco das atividades econômicas na plataforma Gov.br, reduzindo a burocracia atual que depende das legislações municipais.
- Ampliar o investimento em programas de capacitação, focados no manuseio de novas tecnologias, para servidores públicos. Sem uma estratégia clara e abrangente para qualificar transversalmente a força de trabalho, a modernização do Estado pode ficar comprometida.
- Revisar as grades curriculares dos ensinos fundamental e médio, adicionando conteúdo sobre empreendedorismo e digitalização de processos, além de investir em educação tecnológica tanto em escolas como em projetos de requalificação dos profissionais que já estão no mercado de trabalho.
- Integrar plataformas, hoje, separadas de serviços públicos, entre as esferas federal, estadual e municipal, além de digitalizar e automatizar processos ainda analógicos, como assinaturas e tramitação de documentos. Para garantir a efetividade dessas ações, é essencial estabelecer uma agenda que promova a integração entre Estados e municípios, alinhando esforços e recursos para impulsionar a transformação digital do governo.
- Criar projetos de conscientização dos usuários sobre práticas seguras no uso de tecnologias, bem como a implementação de mecanismos de segurança eficazes contra incidentes, como vazamentos de dados pessoais.
- Abrir parcerias estratégicas com o setor privado com o objetivo de encontrar, conjuntamente, soluções tecnológicas envolvendo novos dispositivos, como a Inteligência Artificial (IA) e a blockchain. Isso será possível por meio do programa Startups Gov.br, em que essas empresas são contratadas para suprir lacunas operacionais das ferramentas digitais do Poder Público.
- Coletar regularmente informações sobre a satisfação e a experiência dos usuários com os serviços digitais oferecidos pelo governo, utilizando um canal do Gov.br com o objetivo de realizar melhorias contínuas nos serviços públicos.
- Elaborar políticas públicas para democratizar o acesso da população aos serviços digitais, expandindo infraestruturas de internet a regiões mais pobres. Além disso, é preciso garantir que todos os cidadãos tenham acesso igualitário aos serviços digitais do governo.
Para mais informações sobre as ações e os trabalhos da FecomercioSP com foco na Modernização do Estado, acesse este link. E, clique aqui, para participar e fazer parte das propostas de mobilização promovidas.
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Fonte Oficial: FecomercioSP