Banco Central nacional também enfrenta dificuldades para acelerar a flexibilização da política monetária
(Arte: TUTU)
Por André Sacconato*
Os Estados Unidos enfrentam, novamente, uma ameaça iminente de um shutdown. A menos de três horas do prazo final, a Câmara e o Senado do país conseguiram “costurar” uma solução para o impasse que já se arrastava por mais de um mês e meio.
O shutdown é o resultado da falta de acordo no orçamento estadunidense entre o governo e o legislativo. O financiamento do Executivo estava programado para expirar no último domingo (1º), marcando o início do novo ano fiscal federal.
A partir desse ponto, caso novas fontes de financiamento não fossem votadas, o governo dos Estados Unidos teria de suspender pagamentos, incluindo os salários de setores considerados não essenciais. Esse impasse se torna ainda mais preocupante em razão do fato de a Câmara dos Deputados ser controlada pelo Partido Republicano. Além das questões políticas, o orçamento do governo daquele país tem crescido substancialmente nos últimos anos, exercendo pressão sobre as fontes de financiamento e, de forma indireta, prejudicando os esforços do Banco Central dos Estados Unidos, o FED, na luta contra a inflação.
A dívida nacional norte-americana ultrapassou a marca de US$ 33 trilhões. Para termos uma noção do ritmo de crescimento, essa mesma dívida era de US$ 20 trilhões em 2017 e US$ 10 trilhões em 2008. Isto é, em apenas 15 anos, esse débito mais do que triplicou. Em agosto, a agência de classificação de risco Fitch Ratings rebaixou a nota dessa dívida de AAA para AA+, ligeiramente inferior à máxima. A empresa justificou esse rebaixamento em decorrência da deterioração da situação fiscal nos Estados Unidos e do aumento desse passivo nos últimos anos.
É importante notar que a expansão fiscal foi considerada fundamental durante a pandemia para que o governo pudesse fornecer apoio tanto aos mais necessitados quanto às empresas, principalmente as pequenas e médias.
No entanto, essa situação de desequilíbrio, em algum momento, teria consequências. Além disso, esse aumento considerável ocorre em momento delicado de emissão de dívida pelo governo estadunidense. Grandes compradores desse débito, como a China, estão diversificando reservas após perceber o poder que os Estados Unidos têm para congelar ativos internacionais russos, como aconteceu após a invasão da Ucrânia. O resultado disso é um governo que precisa emitir mais dívida em um mercado com menos demanda. Assim, os juros dos títulos norte-americanos atingiram valores recordes em agosto e setembro.
Essa pressão fiscal torna o trabalho do FED mais desafiador ao tentar reduzir as taxas de juros. Todo esse processo limita a margem de manobra da autoridade monetária, uma vez que os juros básicos são impactados. Nesse ponto, podemos sentir o efeito de todo esse processo no Brasil: ao pressionar as taxas na economia dos Estados Unidos, o Banco Central nacional (Bacen) também enfrenta dificuldades para acelerar a flexibilização da política monetária, uma vez que a taxa do país do norte é considerada uma referência mundial. Isso significa que as taxas de juros permanecerão elevadas por um período maior. Além disso, o crescimento dos Estados Unidos também é prejudicado, o que pode afetar não apenas as empresas exportadoras, mas toda a cadeia de produção nacional.
Em resumo, todo o método de formação da curva de juros estadunidense pode causar um impacto direto às empresas brasileiras, independentemente do porte. Portanto, é crucial acompanhar de perto esse andamento, mesmo que o negócio não seja grande ou não esteja envolvido com exportação.
*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 5 de outubro de 2023.
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Fonte Oficial: FecomercioSP