Autoridade monetária garante que o processo de flexibilização seja consistente e duradouro
(Arte: TUTU)
Por André Sacconato*
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou um aumento de 0,23%, em agosto, ficando abaixo das expectativas médias do mercado, que estimavam um resultado de 0,28%. Além disso, a análise detalhada do número revelou notícias positivas.
Em primeiro lugar, era esperado que os maiores responsáveis pelo aumento do indicador fossem os automóveis, especialmente após a conclusão do programa de auxílio às montadoras pelo governo, e os combustíveis, em razão do aumento anunciado pela Petrobras. Mas, surpreendentemente, esses dois setores não foram os principais causadores da inflação.
O título de maiores vilões ficou com a energia elétrica, que sofreu os efeitos do término do bônus de Itaipu, e com as despesas relacionadas à saúde e higiene pessoal. Além disso, a crise que afeta a economia chinesa desempenhou um papel importante em manter a inflação sob controle no Brasil.
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O setor de alimentos no domicílio, que reflete as compras de alimentos nos supermercados, registrou uma queda significativa de 1,26%, resultado da estabilização dos preços das commodities em virtude da redução da demanda por parte do gigante asiático.
Para o Banco Central (Bacen) e o Comitê de Política Monetária (Copom), as boas notícias não param por aí. Uma delas reside na base dos aumentos, que se ancoraram nas variações dos preços administrados, regidos por contratos e que, geralmente, apresentam crescimentos pontuais no ano. Nesse contexto, observou-se elevação de 1,26% nesses preços, enquanto os preços livres apontaram queda de 0,12%.
Essa dinâmica se revela muito benéfica para a contenção da inflação, porque os preços livres, em geral, melhor refletem as forças de oferta e demanda na economia, e como essa interação está moldando os níveis de valores. Quando os preços livres diminuem, isso indica uma pressão de demanda mais branda, proporcionando um alívio muito bem-vindo para o Bacen.
Reforçando esse panorama positivo, é importante destacar que, nas atas e nos comunicados anteriores, a autoridade monetária enfatizou a intenção de embasar as próximas ações da sua política na dinâmica do setor de serviços.
Uma melhora nesse movimento prolongaria a sequência de cortes de juros por um período mais longo e com maior intensidade. Em agosto, o índice de serviços apresentou alta de 0,29%, sinalizando não só uma tendência positiva, mas também uma mudança altamente favorável para a tomada de decisões.
Além desse elemento positivo, a média dos núcleos, que compreende os preços que melhor refletem a pressão da demanda interna, excluindo produtos sujeitos a variações de choque e preços voláteis, encerrou o mês com um aumento de 0,28%. No acumulado de 12 meses, essa média está abaixo de 4%, especificamente em 3,8%. Mais uma vez, o destaque aqui não é apenas o número em si, mas como o processo de redução da inflação se mostra sólido e proporciona ao Bacen certa margem de manobra.
Apesar desses indicadores positivos, não convém à autarquia acelerar o ritmo de cortes na Selic no momento. Isso se deve ao fato de que a chamada “ponta longa” da curva de juros (ou seja, as taxas de longo prazo) vem aumentando de forma constante desde o fim de julho, sugerindo que o mercado ainda acredita que o trabalho de contenção inflacionária não esteja totalmente concluído.
Portanto, é prudente que o Bacen mantenha os cortes de 0,5 ponto porcentual, uma estratégia que deve se estender não apenas à reunião de setembro, mas também a outras duas reuniões até o fim do ano.
Dessa forma, a autoridade monetária garante que o processo de flexibilização seja consistente e duradouro, o que será uma excelente notícia para a economia. Qualquer decisão precipitada poderia interromper um ciclo extremamente positivo.
*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 15 de setembro de 2023.
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Fonte Oficial: FecomercioSP