Também é ocasião relevante para situar melhor o debate em torno de uma moeda única entre os países-membros
(Arte: TUTU)
Em meio a um cenário global turbulento, o Brasil precisa se valer do encontro do Brics, em Joanesburgo, na África do Sul, a partir desta terça-feira (22), para pôr na mesa temas de interesse comum do grupo, como o desenvolvimento humano, o combate à pobreza, a diminuição de barreiras alfandegárias e as mudanças climáticas. Na perspectiva do Conselho de Relações Internacionais da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), isso significa se afastar ao máximo dos assuntos delicados que, hoje, atravessam o bloco, como as relações conflituosas entre Estados Unidos e China e a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Será a décima quinta vez na história que os países do bloco se encontrarão. Desta vez, estarão juntos os presidentes do Brasil (Lula), da China (Xi Jinping) e da África do Sul (Cyril Ramaphosa), além do primeiro-ministro da Índia (Narendra Modi) e do chanceler da Rússia (Sergey Lavrov), representando Vladimir Putin — que, há um mês, avisou que não participaria.
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Na visão da Entidade, qualquer decisão tomada em solo sul-africano que toque nesses temas sensíveis trará prejuízos à posição brasileira no exterior. É por isso que, na geopolítica contemporânea, o Brics é um formato perigoso. Além disso, para a Federação e seu conselho, o Brasil deve garantir que nenhum outro país integrará o bloco, ao menos por enquanto. Recentemente, a diplomacia sul-africana revelou que mais de 20 países já pediram para se tornarem membros do grupo, como a Argentina, o Irã e a Arábia Saudita.
Para o País, aceitá-los significaria dois problemas: diluição do seu poder de barganha nas decisões relevantes dentro do grupo e aumento das chances de precisar referendar medidas que não aprove na sua totalidade. Mais importante ainda é evitar que o Brics se torne um bloco antagônico aos Estados Unidos e ao mundo ocidental. Apesar de ser um manejo político difícil, o Brasil deve fazer todo o esforço possível para não deixar o grupo seguir nessa rota, o que seria extremamente perigoso para a própria posição no tabuleiro global.
Também é ocasião relevante para situar melhor o debate em torno de uma moeda única entre os países-membros. Por um lado, essa pode ser uma oportunidade real para discutir alternativas ao dólar — como Brasil e China já fazem em trocas comerciais, inclusive usando o renminbi. Por outro, é uma circunstância propícia para observar o longo caminho que há para se criar uma moeda única, ideia que foi ventilada desde o início do ano por diferentes líderes dessas nações.
No entendimento da FecomercioSP e do Conselho de Relações Internacionais, só é possível pensar em uma moeda comum em um cenário de convergência de condições macroeconômicas, com situações de dívida externa, déficit e modelo de câmbio semelhantes entre si. Na atual conjuntura, o que acontece é exatamente o contrário, ainda mais considerando a presença (e força) da Rússia no bloco. Se o Brasil seguir com essa agenda no encontro na África do Sul, haverá êxito diplomático. Não será fácil, mas necessário.
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