Especialista elenca os três principais pontos de atenção na construção de uma política de recuperação
(Arte: TUTU)
Por André Sacconato*
Os números divulgados, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sobre a produção industrial de maio seguem mostrando um setor incapaz de se desenvolver no Brasil. O crescimento, quase nulo (0,3%), não foi suficiente nem ao menos para tirar o ano do vermelho.
Em 2022, já acumula queda de 2,6%; assim, não consegue sequer voltar ao nível pré-pandemia. Um valor mais assustador mostra que estamos praticamente 20% menores do que durante o pico do setor, em 2013-2014.
Além disso, 13 dos 26 setores industriais ainda estão abaixo do nível pré-pandemia. Por exemplo, o de móveis (-23%); o de vestuário (-19%); e o de veículos (-14%).
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Sabemos que muito da queda recente se deve a fatores conjunturais: a inflação, que consome a renda real do trabalhador, que ainda enfrenta um mercado de trabalho muito difícil e não consegue obter ganhos consistentes para consumir; a taxa de juros subindo, que, no caso da indústria, afeta tanto pelo lado da demanda (consumidor gasta menos) quanto pelo lado da oferta, pois os financiamentos para produção ficam mais caros; e, finalmente, a desconstrução total das cadeias de produção mundiais causada pela briga entre Estados Unidos e China, pela guerra da Ucrânia e pela diretriz “Covid Zero”, no gigante asiático. Assim, no curto e no médio prazos, as indústrias nacionais vivem, de fato, um cenário complexo.
Entretanto, a queda do setor não é de agora, mas estrutural. Já vem de décadas. A participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu de 27,4% para 20,5%, entre 2010 e 2020. Em outubro de 2021, o PIB industrial estava 14% menor do que no início de 2014, segundo o Monitor do PIB, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Portanto, os dados suscitam a discussão generalizada a respeito do que pode ser feito para tentar reverter o quadro. A primeira constatação é que não há solução no curto prazo. Assim como a desvalorização artificial do câmbio e subsídios ou incentivos fiscais não mudarão a conjuntura no longo prazo.
São três os principais pontos de atenção na construção de uma política de recuperação da indústria para um futuro distante:
Inserção nas cadeias de produção mundiais;
Melhoria geral no ambiente de negócios;
Investimentos e desenvolvimento da alocação dos recursos na área de Educação.
O primeiro passo se resume a uma abertura gradual da economia brasileira para produtos estrangeiros, com diminuição das tarifas de importação e incentivos à exportação. Se continuar fechada, a indústria não terá concorrentes externos – e, consequentemente, haverá pouco incentivo à inovação. Além disso, a abertura barateia a compra de insumos e máquinas estrangeiras de primeira linha, facilitando o investimento e a produtividade.
A segunda ação precisa dar conta de um emaranhado de problemas consagrados que estrangulam o empresariado, dentre eles, as dificuldades para pagar impostos, abrir (e fechar) empresas e conseguir crédito, além de outras incertezas jurídicas típicas de um mercado de trabalho engessado e inseguro. Tudo isso deve ser o objetivo de um governo interessado em favorecer o setor industrial. Reformas são necessárias e urgentes.
E, enfim, como último ponto, temos a educação: favorecer os ensinos básico/técnico e a digitalização, propor melhores condições para os professores e valorizar os profissionais mais bem-preparados são condições básicas para o desenvolvimento almejado. Sem melhoria na produtividade não há indústria forte.
Este é um plano para muitos anos. Não há solução fácil, nem rápida. Tudo demandará muito trabalho e vontade política. O resto é só populismo.
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*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 14 de julho de 2022.
Fonte Oficial: FecomercioSP