Negociação com fornecedores também é vital. FecomercioSP enfatiza que além dessas negociações, o comerciante sempre deve buscar opções mais em conta no mercado
(Arte: Tutu)
Por Wesley Damiani
A indefinição no ambiente político e econômico nos últimos meses, principalmente quanto ao andamento na tramitação da Reforma da Previdência no Congresso, gera incertezas na economia, ainda mais em um período de estagnação da atividade e revisão negativa da perspectiva de crescimento do País. Isso afeta diretamente a circulação de moedas estrangeira, com reflexo em vários segmentos de setores produtivos, pelo aumento dos gastos operacionais.
Nesse contexto, as empresas que realizam importações, mesmo os pequenos negócios que são afetados pela alta do dólar, não têm poder de influência nos preços do mercado. Esse aumento do preço da moeda, então, afeta a estrutura dos custos dentro da organização, por ser muitas vezes um choque imprevisível para o empresário, aponta a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
O Grupo PLL, que trabalha com assistência técnica e fornecimento de tecnologia, de hardware e software, compra diretamente de fornecedores, mas todas as peças e produtos são cotados pelo dólar. Dessa forma, a valorização impacta diretamente esses preços e prejudica o planejamento financeiro.
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De modo a evitar isso, a empresa utiliza um método para tentar “congelar” os preços. O diretor do grupo, Pablo Linhares, explica que eles estabeleceram uma média para segurar o máximo possível o custo da variação do dólar antes de repassar aos clientes. “Nós estabelecemos uma margem de variação da moeda nos próximos meses; nela, já calculamos a perda. Só alteramos os preços quando o custo da moeda ultrapassa nossas projeções. O resultado da receita após esse cálculo dependerá de quanto a moeda americana valorizou”, conta.
Mas a organização também adotou outros meios para reduzir os custos e aumentar a rentabilidade. “Hoje trabalhamos com seis distribuidores. O tempo todo estamos negociando, colocando um para ‘brigar’ com o outro”, em busca de um menor custo. Também enxugamos o volume de compras, de modo a termos mais eficiência. O planejamento também precisa ser feito com cautela, já que a fatura sempre chega com um preço diferente. Fica muito ruim trabalhar com um valor diferente ao consumidor a cada mês”, comenta.
Planejamento
A FecomercioSP ressalta que os pequenos negócios têm mais facilidade para se adaptar ao cenário econômico. Tendo em vista os entraves que os custos podem trazer para um negócio, a entidade sugere algumas medidas para que as empresas atenuem os impactos desse aumento do dólar e ainda aproveitem essa fase para aplicar mudanças estruturais na organização, ficando mais preparadas para reduzir os impactos do choque cambial.
A primeira delas é avaliar a conjuntura como um todo e buscar ter um diagnóstico da situação financeira da empresa, levando em consideração suas condições de sobrevivência. Tendo em vista que o dólar pode continuar se valorizando, um planejamento estratégico direcionado para esse período especificamente pode ser uma vantagem.
Essa análise não deve considerar apenas os lucros, mas principalmente as saídas futuras do fluxo de caixa da empresa, isto é, quanto ela gastará no futuro. Avaliar os fornecedores também é fundamental para poder identificar em que setores a organização será mais atingida pelo aumento dos custos de importação, diz a Federação. Além disso, o foco ainda deve estar voltado ao aumento da produtividade, principalmente nas vertentes de receitas e de despesas.
A FecomercioSP enfatiza que o poder de negociação com fornecedores depende muito do relacionamento estabelecido, e isso pode ser um diferencial; mas também se deve sempre analisar opções mais baratas.
O fundador da franquia Nação Verde, Ricardo Cruz, diz que, como os produtos – principalmente os alimentícios – com os quais a empresa trabalha são importados, a alta do dólar afeta diretamente os custos. “É necessário ter um cuidado a mais quando o dólar está em alta, porque, às vezes, estamos vendendo um item a um preço e, quando vamos fazer a compra com o fornecedor, já está outro. Para evitar esse prejuízo, fazemos pesquisas de preços com os fornecedores constantemente, tanto para não sairmos prejudicados quanto para não lesar o nosso cliente”, comenta.
Ele aposta primeiramente na negociação: “Nós tentamos negociar em quantidades maiores o número de mercadoria que iremos comprar, para termos um custo menor na aquisição. Quando optamos por fazer isso, nós temos o costume de elaborar campanhas para melhorar a exposição, já que estamos ampliando o volume de nossos estoques”, conta.
Ainda assim, ele diz que, dependendo da variação do aumento, a empresa precisa repassá-lo aos preços, principalmente se for identificado um impacto negativo nas contas. Essa é uma das sugestões da FecomercioSP para que a empresa não perca lucratividade ou comprometa a gestão de caixa.
Oportunidade
Dependendo do porte ou tipo de atividade da empresa, o aumento do dólar nem sempre será um problema.
É o caso da Crowe, prestadora de serviços em auditoria e consultoria. Essa rede atende globalmente a muitas organizações multinacionais, com contratos inclusive no exterior. O sócio fundador da empresa, Marcelo Lico, explica que ter uma cartela de clientes variada, que atuam dentro e fora do País, possibilitou que a Crowe tivesse um ganho com o aumento do dólar, ainda que moderado. “Cerca de 20% das nossas receitas de trabalho são provenientes de clientes internacionais. Então, essas transações são feitas em dólar, o que valoriza o ganho, mesmo tendo uma porcentagem moderada na receita total”, pontua.
Confira dicas da FecomercioSP para controle de estoques e formação de preços.
Fonte Oficial: FecomercioSP