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como superar?, por José Pastore – FecomercioSP

“A confiança surgirá de várias lições de casa a serem feitas pelo próprio governo”, escreve
(Arte: TUTU)

Por José Pastore*

O Brasil passou por momentos bastante difíceis no campo do trabalho. Mas o desemprego atual está sendo dolorosamente profundo e alongado. Nos anos 2003-2004, a taxa de desemprego chegou a 12%, mas em 2005 baixou para 9,5% e em 2007 recuou para 7,5%. No final de 2008, passou para 6,8% e no final dos anos 2010-2011 ficou ao redor de 5%.       

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No caso atual, o desemprego saltou repentinamente para cerca de 10% em 2015, chegando a 12% no final de 2016 e ali ficando até hoje. Para os jovens, a taxa é de27%! São mais de 13 milhões de brasileiros desempregados e de 15 milhões de desalentados e de subutilizados.

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O sofrimento das famílias é intenso. Muitas devolveram suas casas por incapacidade de pagamento. Outras retiraram seus filhos das escolas particulares. Mais de três milhões cancelaram seus planos de saúde. Além da destituição material, essas famílias estão perdendo a fé e a esperança no futuro. Cerca de 30% dos desempregados estão nessa situação há mais de dois anos. Esses são, sem dúvida, os problemas mais devastadores da população brasileira.

A causa básica desse quadro dramático é o baixo crescimento econômico e a falta de investimentos produtivos. O PIB baixou de 7,5% em 2010 para-3,5% em dois anos seguidos (2015-2016), ficando em apenas 1% em 2017 e 1,1% em 2018. Para 2019, amargaremos 0,90% ou menos. A taxa de investimentos que era de 23% do PIB nos anos 1990 baixou para 15% nos dias atuais. Nos últimos cinco anos, os investimentos públicos minguaram de 2,7% para 1,2% do PIB. Irrisório! Não há como criar emprego nessas condições.

O Brasil tem fôlego para crescer 4% ou 5% ao ano? Há controvérsias. Muitos analistas dizem que, uma vez realizadas as reformas anunciadas, elas trarão de volta o ânimo que os investidores precisam para tirar seus projetos das gavetas e gerar empregos. Outros alertam que o Brasil não conseguirá crescer mais de 2% ou 2,5% ao ano por falta de energia, estradas, portos, aeroportos, armazenagem e sistemas modernos de comunicação e educação de boa qualidade.

Vejo o quadro com mais esperança. A própria reconstrução da infraestrutura pode se tornar a principal usina de empregos no processo de retomada, pois esse setor tem uma cadeia produtiva muito longa. O efeito multiplicador da construção de uma usina elétrica, de uma rodovia ou da remodelação dos portos, por exemplo, instiga a produção de materiais para as obras assim como os setores siderúrgico, metalúrgico, elétrico, químico e muitos ramos do comércio e serviços. Ou seja, a reconstrução da nossa infraestrutura pode ser o carro chefe da retomada do emprego.

Para a referida reconstrução serão indispensáveis os investimentos privados. Mas, para tanto, não bastam as reformas anunciadas. A confiança surgirá de várias lições de casa a serem feitas pelo próprio governo: desburocratização, simplificação da regulação, redução de impostos etc.—providências que não exigem recursos e sim decisão de fazer.

Todos sabem que a produtividade do trabalho terá de aumentar para que tudo seja feito com mais eficiência. Neste campo, acredito que o Brasil deve receber um importante empurrão externo da abertura comercial antevista com o Acordo União Europeia-Mercosul. O aumento da concorrência constitui uma força poderosa para induzir as empresas a melhorar a produtividade e a competitividade. Aqui, também o governo terá um papel importante na simplificação acima indicada. Insisto: são providências que independem de recursos e, sim, de bom senso e da disposição de racionalizar. Enfim, acho que há chances de o Brasil surpreender e retomar o crescimento do emprego dentro de dois ou três anos. Tom Jobim estava certo ao dizer que este país não é para amadores…

*José Pastore é Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP
Artigo originalmente publicado no jornal Correio Braziliense no dia 05 de julho de 2019.

Fonte Oficial: FecomercioSP

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