Foto: Ricardo Stuckert
Advogado de Dilma Rousseff no período do impeachment, José Eduardo Cardozo segue defendendo a democracia como caminho único para a solução dos problemas no Brasil. Para o ex-ministro da Justiça, no entanto, após a saída da petista da presidência do país, houve um “enfraquecimento das instituições democráticas” brasileiras.
“Há gente que concorda, gente que discorda, mas acredito que naquela época já estava muito claro que viveríamos momentos de muita turbulência no Brasil. Mas eu esperava que com as últimas eleições houvesse uma repactuação institucional”, diz José Eduardo Cardozo. E, ao contrário do que esperava, pontua, “o governo eleito não tem nenhuma preocupação com a institucionalidade brasileira. Parece que o atual governo quer aprofundar o embate.”
Para José Eduardo Cardozo, do ponto de vista institucional, após a eleição de Jair Bolsonaro, “hoje o Brasil indo ladeira abaixo”. O ex-ministro da Justiça observa ainda que não vê, agora, um governo. E, sim, “governos”: núcleos que não se entendem e, por isso, não conseguem dialogar. “Vejo um decreto de armas que vai na contramão da história e vejo que dentro do governo existia uma oposição em relação a isso. Ministros que eram ‘superministros’ (referência a Sérgio Moro, da Justiça) simplesmente se submetem a situações que acredito que vão contra suas próprias convicções”, completa.
José Eduardo Cardozo acredita ainda que, diante do atual cenário, é preciso “aperfeiçoar os mecanismos democráticos e não aniquilá-los”. “Hoje nós temos um presidente que não tem o menor compromisso com o Estado de Direito, embora tenha sido eleito nele. E temos setores da máquina estatal que têm um claro projeto de poder, que querem concentrar poder e que acham que eles governando salvarão o país. Isso é um desastre absoluto, porque quem tem que ter poder de decisão é o povo”, pontua.
Para restaurar o poder político (em sua forma democrática), aponta José Eduardo Cardozo, é necessário ainda que a sociedade se conscientize de que “mitos” e “messias” não existem. Não no palco político. “O problema do Brasil é agravado por um sistema político anacrônico. Ele favorece a corrupção, ele leva à ingovernabilidade, ele traz a deslegitimação acentuada do sistema legislativo. O problema é que a própria sociedade ainda não se conscientizou disso. Não percebem que o problema está mais embaixo.”
Via: Central da Pauta.